Wednesday, November 26, 2008

instantes



Num instante
Sou teu amante
tua estrela cintilante
amor de um ser fascinante

Depois do instante
Sinto-me distante
Naquele dor triunfante
Fulminante, desesperante!
Um adeus amargurante.

Mas agora e sempre
O príncipe, o infante
Alma que não durou,só,um instante...

Tuesday, November 25, 2008


Hoje, tal como acontece há algum tempo acordei ao teu lado. Lá fora, um dia solarengo de Outono despertava de mansinho ao som do canto dos pássaros. Acordei no escuro do teu quarto, mais cedo do que o habitual. O ar estava pesado a não ser a tua respiração que fluía levemente como uma brisa marítima.
A minha alma estava absorvida de pensamentos, e sentia uma dor cada vez mais forte sobre o meu peito. Toquei-te. Passei a mão levemente sobre o teu rosto de anjo. Olhei-te na escuridão do quarto e abracei-te. Respondes-te com um subtil toque nas minhas mãos e encolhes-te teu corpo como quem de protecção precisa. Imbuíste-te sobre o meu escudo protector, e ali ficas-te de mansinho com as mãos sobrepostas sobre as minhas, enquanto apertavas cada vez mais o teu corpo contra o meu.
Não resisti. Abracei-te para te sentir, para sentir o amor a tocar mais fundo e a tentar apaziguar a dor. Tentei não pensar. Queria apenas prolongar eternamente aquele efémero atroz.
Senti pela última vez o cheiro da tua pele. A beleza do teu rosto e a pureza da tua alma. Senti e tentei sentir-te… tentava sempre não pensar.
No final, muitas memórias muitos pensamentos e sensações sensacionalistas que nos absorvem e nos matam… Saudades e indefinições na constante frieza das palavras. Contradições e contrariedades no instante de um beijo mais que se perde… O cansaço da ausência… a indiferença que mata… e a diferença que se oculta… as saudades e o saudosismo que atormenta… e no fim… silêncio muito silêncio e vagas sensações de sentimentos ocultos. A angustia misturada com a dor apaixonante de quem ama.
Senti, como se fosse a ultima vez que me iria deitar ao teu lado… Senti que não mais iria sentir a tua perfeição, os teus odores, as tuas fragrâncias, as nossas sensações… Senti a indiferença do futuro, e a diferença do presente.
Agora, guardo-te na memória qual musa encantada. A princesa do olímpico que se esvaiu na imensidão das palavras, a rainha de tempos imemoriais, a dama da fantasia, a mulher dos sonhos, a imaculada menina…
Memorias, pensamentos, recordações, e fantasmas que me assolam nos instantes da tua ausência…

Eu sei, sou outro...

Friday, November 10, 2006

OS OUTROS

Os Outros



Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.

Mário de Sá Carneiro, in Quase.


Palavras repetidas até se gastarem. Frases feitas dispersas em lábios lânguidos. Um olhar deixado ao acaso da solidão e mais um gesto banal repetido até a extrema saturação da alma.
Pisam lugares, trilham espaços que atormentam os corpos mais frios, e prendem com os dentes o mais misterioso dos enigmas da noite - o corpo. Deixam - se levar até ao mais fundo das conveniências mundanas envoltas no lençol branco que lhes tapa a alma de um amor que amor não é. Sobem as escadas da vida sem pensar no mais dos outros que ao lado deles se sentam. Deixam - se repetidamente usar até ao mais vulgar dos meios joviais. Pintam com as palavras da vida uma alma inumana, e cinzelam o corpo como se de uma escultura de mármore se tratasse.
É um amor falso, o destes comuns mortais, onde se gastam palavras num adeus que tarda. Onde se entregam à loucura ébria de uma conveniência estúpida e falsa e onde se escondem por detrás de uma inexistente mascara da vida que mais não é do que um espaço vazio e cínico onde na luz da noite desonram a alma que lhe foi dada e se entregam ao mais mortal dos desejos terrenos.
Estou farto de ouvir a palavra “amo-te”. Quero ouvir um hino ao amor, quero sentir no peito o coração palpitar de dor e sofrimento, quero que cantem na manhã uma musica ao sabor da chuva, quero, quero…. Quero tudo pelo amor que parece deixar de existir, quero tudo pela loucura onde vibramos nas madrugadas mais longas, e onde o som da alvorada alimenta em nós o desejo de um lugar único onde o amor existe.
Quero a alma das pessoas a transbordar de gáudio quando, repetidamente, iluminam o amor da alma. Quero também o amor do coração. Quero o amor do sangue, mas quero acima de tudo o amor do entendimento da razão Humana.
Quero tudo pelo AMOR. Por este amor onde só entra quem sabe abrir a porta. Onde só entra quem usa a chave do entendimento.
Imerso em pensamentos, encontro o amor a cada esquina, a cada passo, em cada pedra, em cada banco do jardim , em cada árvore onde alguém riscou um “Para Sempre” e o tornou num “Assim o quis”. Encontro o amor na noite escura, encontro o amor na manhã submersa, encontro o amor nas pequenas e grandes coisas…
O amor está em todo o lado. Onde o queiramos encontrar ele esta ali. Sempre pronto para alimentar a alma de mais um dia de vida e mais um mártir da fé.
Chega de conveniências e coexistências fúteis de mero oportunismo, chega de exageros de manifestação ocular do “fica bem!” Chega da falsidade a que conduziram esta palavra. Que é mais do que uma palavra. Chega de idiotices e de cocktails de carne corporal onde o nú envolto em lágrimas de cera nunca chorou. Chega de imagens de corpo torneados pelo tempo. Chega. Chega de toda esta idiotice mundana que é a vida e em que tornaram a nobreza de um sentimento, no mais vulgar dos “Amo-tes” terrenos. O amor não é só para viver é para entender e Amar. Para ter sem ter, para conseguir sem nunca esperar, para viver e matar a morte mais devagar.
O Amor é só o Amor. Nada mais serve a vida do que por ele esperar, mesmo sem nunca encontrar.
Abrem-se a luzes e escorrego para o mais pragmático dos mundos. Os carneiros estão lá fora. Esperam o Homem.
Eu sei sou Outro.

Tuesday, November 07, 2006

A persistência da memória

Este quadro tão pequeno (24x33cm) é provavelmente a mais conhecida de todas as obras de Dali. A flacidez dos relógios dependurados e escorregando mostram uma preocupação humana, com o tempo e a memória. O próprio Dali está presente, na forma da cabeça adormecida que já apareceu em outros quadros. Segundo ele, a idéia do quadro ocorreu e como a paisagem já estava pronta, levou apenas 2 horas para realizá-lo. Quando Gala, voltou do cinema e viu o quadro, previu que quem visse este quadro jamais o esqueceria.

Saturday, October 14, 2006

Apertos



Todos os dias o tempo corre da mesma maneira. O frenesim da entrada no metro nas horas de ponta repete-se, incessantemente, ate ao fim das horas mundanas. São os apertos deste mundo que nos rodeia e nos oprime. Há quem lhe chame apertos, encontrões, empurrões e todos os sinónimos que lhe queiramos aplicar, e que mais não é do que aquela metafísica natural e inumana com que todos os dias vivemos a entrada de um tubo que corre o subterrâneo da nossa cidade. São as opressões que sofremos de um mundo liberal e consumista, um mundo de apertos onde encontramos de uma forma mais ou menos sombria a frieza dos corpos que nos atropelam enquanto, ansiosamente, aguardamos um pedido de desculpas que é deixado ao acaso das sensações incorpóreas e onde o cheiro do mundo se confunde com o aperto do coração de um mendigo que chora a ausência de um aconchego caloroso de uma sopa que lhe aqueça a alma. Os apertos são, assim, as sensações do mundo.

As mãos frias que cumprimentamos todos os dias ao chegar ao trabalho, o nó da gravata que apertamos até nos sufocar a garganta dando uma sensação de desespero aos mais incautos que nos observam com o dedo colocado sobre o nariz pensando que a existência humana toda ela se consagra a tortura de um laço apertando a garganta com vontade que a vida nos sufoque. Mas hoje não deixamos mais que os apertos nos aflijam.

Hoje observamos com lucidez o abraço que o mundo exerce sobre nós. Não são, tão-somente, as sensações físicas, mas outrossim, as sensações psicológicas que transparecem a sensação daquele sopro baixinho (como se de um sussurro de uma onde se tratasse). Temos, ainda hoje, a ideia de que o mundo existe para conquista-lo na medida de um aperto e de um aconchego, mas a vida é mais do que este espaço vazio, é mais do que estes corpos apertados pelo tempo e oprimidos pela insegurança de um futuro que o tentam inventar com o desejo de o conseguir conquistar. É preciso respirar.

A vida é mais do que este espaço desabitado e frio, é mais do que possamos pensar e sentir.

Apertamos, hoje, contra o peito, o choro de uma criança, apertamos na forma de um abraço, o carinho que temos para dar e abraçamos, como se o mundo fosse acabar, o pranto da nossa alma, a tristeza da nossa existência.

Mas, também, abraçamos o amor, a esperança, abraçamos o calor do corpo quando nos apertamos, mutuamente, contra ao peito e sentimos todo o mundo deitado ali perante a insatisfação daquele abraço. Enlaçamos as mãos e sentimos a força dos corpos, e pensamos que somos mais do que átomos ligados por um força física e que um dia vamos acabar subtraídos à poeira do esquecimento dos homens. Agora, esquecemos o mundo, e envolvemo-nos com mais força e mais anseio e sentimos mais do que um abraço e um desejo. Sentimos, acima de tudo, que somos humanos e que vivemos num mundo onde as sombras são projectadas na caverna, (que na verdade não é mais do que uma alegoria), mas vivemos, e ontologicamente pensando – existimos. Mas existe vida para alem deste mundo.

Acordamos, numa manha de sol, e sentimos o aperto do Estado sobre as nossas carteiras. Sabemos, agora, que aumentaram os impostos, a inflação disparou, o desemprego aumentou e mais um sem fim de noticias calamitosas para o mundo da nossa existência.

Mas voltamos a sentir-nos apertados pela nossa vida, e sufocamos os outros com as nossas palavras e actos sem nunca pensarmos que os outros também sentem os apertos do mundo e das imagens que criam para si que não passam disso mesmo : imagens e sonhos.

Não. Não quero mais este mundo. Quero sentir o sufoco do amor, o aperto de um sonho passado, quero sentir-me sufocado pela esperança de um novo amanhecer. Quero acordar e sentir. Sentir os pássaros a sufocar-me com a sua melodia, como se de uma sinfonia se tratasse, quero sentir a pureza dos homens a criar uma paz e justiça social como se de uma utopia vivessem.

Não. Não quero este mundo. Não quero mais clivagens. Quero o mundo da igualdade e não da opressão.

Mas, os apertos são realmente as sensações do mundo, é tudo uma questão de perspectiva e prospectiva.

Hoje, levanto-me e aperto a gravata, dando a mim mesmo uma sensação de sufoco, e passado um tempo entro no metro da cidade entre encontrões e apertos e todo o mundo me parece, a meus olhos. igual, porque ao longe ainda vejo o mendigo que espera o calor de um abraço, e eu espero ainda um perdão do Homem que me fez assim, mais mundano e menos Humano, ainda que eu hoje pense que há mais vida para alem deste Mundo.

Acabo de apertar uma mão fria, mas tenho a fina sensação de ter apertado o mais dos humanos entre os homens, ainda que possamos existir no limiar do absurdo da vida. Há mais vida para alem deste pequeno, mas afectuoso abraço.
Eu sei, sou outro.

Q u e m E s c r e v e u . . .


Texto publicado no Diário de Noticias
http://dn.sapo.pt/dnjovem/tex4dnj.htm
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Vitor Leandro Esteves, 21 anos, estudante, Ponte de Lima

Monday, July 31, 2006

Um Belo Poema do Supra-Camões

Fernando Pessoa



Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.



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Monday, May 08, 2006

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade